As empresas portuguesas precisam de se profissionalizar para dar o salto
Aveiro recebeu a 19 de setembro o LINK LAB do AEP LINK, o
projeto da AEP – Associação Empresarial de Portugal que pretende promover a
competitividade no tecido empresarial português, nomeadamente nas PME. Meia
centena de empresários reúnem na AIDA – Associação Industrial de Aveiro para
partilhar o seu know-how, e discutir os fatores críticos de competitividade das
pequenas e médias empresas. Foram destacados no encontro a importância da
profissionalização das estruturas das empresas, nomeadamente para obter
investimento para poder inovar e "dar o salto”, inovação essa que pode estar
assente em redes de parceria com o ensino superior, para que as ideias
desenvolvidas sirvam as necessidades do tecido empresarial.
Paula Silvestre, diretora de Competitividade da AEP, apresentou o projeto AEP LINK que visa estabelecer e fortalecer uma rede de colaboração, que assente nos fatores cítricos de competitividade – investimento, inovação, economia digital e cooperação -, para contribuir para o desenvolvimento regional e da economia nacional. «Vamos pôr as empresas a crescer, a fazer mais negócios, conquistar mais clientes, melhores fornecedores, a explorar novos mercados e a percorrer os caminhos para a inovação», destacou Pedro Janeiro, strategy & operations manager na Deloitte.
O economista explicou ainda a importância dos
empresários preencherem o questionário que está disponível
em aeplink.pt, para que seja possível fazer o diagnóstico das necessidades e
desafios dos empresários, para encontrar/desenhar as soluções e ferramentas
adequadas às PME portuguesas. «Queremos encontrar melhores respostas, soluções
concretas, para cada um dos desafios que impedem as vossas PME de crescer».
Foi ainda realçada a bolsa de oportunidades
do projeto, que pretende promover os negócios e permite aos empresários
publicar e conhecer oportunidades de cooperação e parceria, identificando o
parceiro certo para cada projeto. «Não percam a oportunidade de dizer
claramente o que procuram, aproveitem as potencialidades desta plataforma, que
vos pode encontrar o parceiro ideal para o projeto que pretendem viabilizar»,
remata Pedro Janeiro.
Gonçalo Azevedo Silva, strategy &
operations consultant na Deloitte, apresentou o dashboard interativo da
performance empresarial do AEP LINK, uma plataforma dinâmica e em
atualização contínua, onde podem ser comparados a performance e os indicadores
mais relevantes para a tomada de decisão dos empresários, com a informação real
da economia, por regiões e por setores de atividade. «É uma ferramenta de
posicionamento, de comparação e para traçar objetivos, útil a qualquer gestor
ou empresário».
O encontro prosseguiu com um painel de
discussão dedicado ao investimento, moderado por Gonçalo Azevedo Silva e
promovido pela Iberinform. Bernardo Tavares Nery, chief commercial officer do
Grupo Catari, defende que o grande problema das empresas é a falta de capitalização,
a dificuldade em investir. Quando os empresários querem crescer, há que
recorrer a parceiros de investimento, por exemplo, através do capital de risco.

José Pissarra, Bernardo Nery e Gonçalo Silva
Deu o exemplo da Catari, que investiu em
tecnologia, melhorou a eficiência do produto e dos processos, e iniciou-se em
novos mercados. Para Tavares Nery o empresário tem de tomar decisões: ou faz
parte de uma grande empresa, ou tem a totalidade de uma pequena empresa, que
até pode estar em risco de fechar. Quando uma empresa quer dar o salto, os
novos parceiros "obrigam” as empresas a organizar-se, a "profissionalizar-se”, a
tornar a informação mais clara, para que todos saibam ao que vão.
José Pissarra, coordenador nacional de vendas e
gestão de clientes da Iberinform, destaca o fator determinante de ter acesso a
informação para tomar decisões com segurança, calculando riscos. O responsável
apresentou a plataforma Insigt View que permite fazer uma gestão integrada e
analisar o risco do nosso mercado e do nosso próprio negócio. É preciso
conhecer os nossos clientes, diz, quais representam um custo para o negócio, é
preciso conhecer os fornecedores, parceiros e concorrentes. Esta informação
pode fazer a diferença entre assumir um negócio ruinoso ou não.
Ter transparência sobre a atividade económica
das empresas é muito importante, considera Pissarra, permite conhecer a
realidade do mercado, mas, por uma questão cultural há muitas empresas que não
dão a conhecer as suas contas, assumindo que passam informação "preciosa” aos
concorrentes. O que importa não são as contas, atesta, é a gestão, é a
estratégia. Esta mudança de paradigma é um caminho que está agora a ser feito,
e é importante que seja, porque quando as empresas precisam de financiamento é
essencial ter as contas transparentes, a informação da empresa tem de ser
conhecida.
As teses da academia têm de servir para desenvolver
produtos concretos
Seguiu-se o painel dedicado à inovação,
promovido pela Crédito y Caución e moderado por Pedro Janeiro. Para Maria José
Felício, docente da Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda da
Universidade de Aveiro (ESTGA UA) a aproximação da escola politécnica às
empresas é crucial, e começa logo na formação dos alunos. Contou que os
conteúdos da ESTG UA são desenhados em parceria com os empresários, de acordo
com as necessidades que estes indicam, para que os alunos tenham o conhecimento
que seja útil ao mercado. Também os estágios e outros projetos de
enriquecimento curricular permitem formar os estudantes para o emprego. Para a
docente a produção de conhecimento deve ser feita num ambiente de aproximação
ao tecido empresarial, com parcerias estratégicas com empresas, que permitam
desenvolver know-how que vá ao encontro do que estas precisam.

Pedro Janeiro, Maria José Felício, Bruno Abreu e Miguel Sousa
Bruno Abreu, CEO da Scubic, considera que a
academia para além de produzir conhecimento tem de criar soluções aplicáveis às
PME. A investigação tem de ser valorizada, mas tem que efetivamente ser
transferida para a indústria. As teses da academia têm de servir para
desenvolver produtos, mas, por outro lado, a indústria tem de estar aberta a
novas ideias, ao risco.
Sobre a abertura do mercado à inovação,
nomeadamente em inteligência artificial, Bruno Abreu diz que há resistência,
porque não é uma área fácil ser entendida, e, no caso da Scubic, foi necessário
encontrar soluções alternativas para mostrar as vantagens das novas soluções a
um mercado muito conservador, para que o potencial cliente percebesse que a
solução é credível. No que toca à concorrência mundial, especificamente de
economias com mais força e historial na área da tecnologia e da inteligência
artificial, Bruno Abreu considera que é importante haver programas e quadros de
apoio aos pequenos negócios, às start-ups. Depois de uma boa base de formação
em engenharia – que existe em Portugal –, há que ter financiamento para
desenvolver as boas ideias.
Miguel Sousa, diretor de agência da CYRPT
Comercial y Riesgos Portugal, considera que o nível de literacia e preparação
dos recursos humanos tem crescido e que está mais ajustado às necessidades das
empresas. Para ele a formação é hoje decisiva nas empresas, embora haja ainda
assimetrias na compensação dos trabalhadores.
Considera que a inovação produz melhores
resultados para as empresas, mas o empresário tem de estar disponível para
correr riscos. Quem é empreendedor tem de ter capacidade de resiliência, correr
riscos, reagir, aprender com os equívocos, e claro, aceitar as sugestões boas
de inovação que vêm das universidades. Não é ao acaso que os grandes exemplos
de inovação vêm de empresas que nasceram em garagens, por pessoas que souberam
pegar nos "papéis” da teses e convertê-los num produto para desenvolver.
Para aumentar a competitividade destas pequenas
empresas à escala global, Miguel Sousa destaca o papel do corporativismo pró
ativo para disseminar know-how, boas práticas, dinamizar experiencias cruzadas
e criar escala.
O LINK LAB AVEIRO foi promovido pela AEP – Associação Empresarial de Portugal, Câmara de Comércio e Indústria, que contou com o envolvimento da Deloitte, com o apoio da Konica Minolta, da Crédito y Caución e da Iberinform, e com a colaboração da AIDA. O projeto AEP LINK (www.aeplink.pt) é cofinanciado pelo Compete 2020, pelo Portugal 2020 e pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).