É essencial criar mecanismos que facilitem a atração de investimento para o interior
10-05-2019
É essencial criar mecanismos que facilitem a atração de investimento para o interior, defenderam os participantes no painel dedicado ao Investimento do Link Lab de Vila Real, que decorreu ao longo da manhã de 9 de maio, no Regia Douro Park. O evento, que encerrou com um almoço de networking, discutiu a importância do investimento e da cooperação para a competitividade das empresas e da economia portuguesa.
No painel dinamizado pela Iberinform e moderado por Luís Mendonça, diretor do jornal Notícias de Vila Real, falou-se de investimento. O jornalista exemplificou a forma como as pequenas empresas têm dificuldade em fazer investimentos e acabam por ser penalizadas em termos de inovação, porque não têm capacidade para investir. No caso da pequena empresa de comunicação regional onde esteve envolvido, contou, foi necessário recorrer a um empréstimo junto de um parceiro para ter a possibilidade de o fazer: não tendo capital para investir, para recorrer a fundos por exemplo, como se pode assim inovar, questionou.

Luís Mendonça, Nuno Augusto, Miguel Pinto, Manuel Lavadinho
Nuno Augusto, diretor do Regia Douro Park e vereador do Município de Vila Real, defende a criação de redes que colmatem as débeis capacidades financeiras do tecido empresarial da região. «No Regia Douro tivemos essa preocupação, de criar uma rede que tem hoje quase uma centena de empresas. Não substituem o empresário mas trabalham em rede, para que surjam parcerias que possam concorrer a projetos maiores, para que em conjunto possam ir mais longe. Juntar empresas em diversos estádios, juniores com empresas com mais história, por exemplo, para que possam ajudar-se mutuamente a resolver problemas».
Miguel Pinto, diretor geral da Kathrein Automotive – part of Continental considera que a questão que mais preocupa a região de Trás-os-Montes é a atração do investimento para o interior: «É muito difícil atrair investimento para o interior e há pouca vontade dos governos em resolver». Temos condições internas, queremos trazer investimento, criar postos de trabalho, mas muitas vezes não temos incentivos centrais, não temos possibilidade de concorrer, ou então o projeto é chumbado por razões pouco importantes. Pela experiência do responsável, os investimentos para o interior são penalizados e é muito importante ultrapassar isto.
Para Miguel Pinto há muito trabalho para fazer, as autarquias têm de investir em diplomacia comercial. Como? Com demonstração de condições para receber as empresas (facultando terrenos, dando benefícios fiscais, diminuindo a burocracia e o tempo de resposta); mas também os próprios empresários, «as equipas de gestão das empresas têm de demonstrar aos investidores e aos parceiros que compensa investir aqui e não na China».
Manuel Lavadinho, head of major account da Iberinform, considera que as empresas têm capacidade financeira limitada, o que limita também o crescimento económico. «O custo da energia é elevadíssimo, a parte fiscal também, a morosidade dos pagamentos, os custos judiciais, e é cada vez mais importante o empresário conhecer a sua base de clientes e fornecedores, assim como a concorrência, se há uma dependência muito grande dos fornecedores – é importante saber como eles estão. A informação é a base de tudo, e ser rápida e atualizada: monitorização pode traduzir se em liquidez. Saber de antemão a capacidade de pagamento de um cliente é muito importante».
Miguel Pinto abordou ainda as dificuldades em encontrar mão-de-obra qualificada, embora para a Kathrein não seja um problema – há resposta para a procura –, mas para os quadros especializados e com experiência torna se mais complicado, já que é difícil trazer essas pessoas para o interior.
Nuno Augusto considera que, sobre os investimentos para o interior, é difícil encontrar soluções para questões macroeconómicas. Acontece na dicotomia interior-litoral e na dicotomia Portugal-Alemanha, por exemplo. A capacidade de diminuir este fosso no investimento é muito baixa. «Há que ter medidas políticas que discriminem pela positiva, que permitam ao empresário ter vantagem em investir no interior em detrimento do litoral, diminuindo os custos associados. Há muitos investimentos que não trazem nada a cidades como Lisboa, mas que têm um grande impacto no interior, na capacitação do investimento e atração de pessoas». Ainda assim, o vereador considera que há que continuar: «Não podemos desistir do nosso território».
Em relação a estas dificuldades do interior, Manuel Lavadinho considera que hoje é pouco importante, por exemplo, onde "está” a informação. «A digitalização permite estar em qualquer lado, e no interior o digital tem a vantagem de ser mais barato, há muitas oportunidades a explorar nas zonas do interior, por exemplo nas indústrias digitalizadas, nas quais não interessa onde está a informação desde que esteja disponível».
Há que criar condições para o jovens se fixarem e trabalharem na região
A cooperação foi o tema do último painel do dia, promovido pelo Regia Douro, para abordar oportunidades, negócios e colaboração. Rita Estácio, do Regia Douro Park, apresentou o projeto: um parque de ciência e tecnologia focado no setor agroalimentar, particularmente vitivinícola e ambiente. Inclui uma incubadora e aceleradora de empresas, um centro de investigação em parceria com a UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e um parque industrial, e conta com 70 entidades instaladas. Rita Estácio abriu a conversa considerando que é preciso combater a falta de densidade populacional, «há que criar condições para o jovens se fixarem e trabalharem na região, e temos tentado apoiar as empresas e os empresários para dinamizar o tecido económico em Vila Real».

A representante do Regia Douro apresentou dois exemplos de sucesso de PME inovadoras da região, ambas pequenas empresas que criam emprego qualificado e estão instaladas no parque. A Cosmetek, representada por Helena Ribeiro, diretora técnica, e que trabalha na área da cosmética, e a Spawnfoam, representada por Pedro Mendes, CEO, que é uma spin-off da UTAD, e que trabalha ao nível dos biomateriais.
A Cosmetek fornece serviços, nomeadamente estudo de compatibilidade entre o produto cosmético e a sua embalagem. Para exemplificar o seu trabalho, apresentou a marca de perfumes do Cristiano Ronaldo – CR7 – para a qual estão a desenvolver testes de desenvolvimento do produto. A empresa está a testar a compatibilidade entre o metalizado da embalagem e da tampa, e o produto em si. Passa também por encontrar a cor, a concentração de perfume certa, filtros da embalagem, verificação se o produto cumpre todos os standards em termos legais, regulamentares, etc.
A Spawnfoam é uma empresa de biotecnologia e que teve início na UTAD como produtora de biocompósitos. Transforma a biomassa da produção de cogumelos para produzir biocompósitos para aplicar em vasos biodegradáveis. «A mais-valia deste tipo de aplicação é isentar o plástico da produção de plantas. É 100% orgânico e compostável, e tem uma boa durabilidade – após a colocação do vaso e planta no solo, degrada-se em oito dias». Para o responsável, estar no interior é uma vantagem, «por estarem próximos geograficamente ao setor do vinho e dos cogumelos, que são matéria-prima».
O Regia Douro Park incentiva a cooperação entre as empresas instaladas, e também entre empresas da região mesmo que não estejam instaladas no parque, fazendo da cooperação em rede o mote da sua atuação. Para Helena Ribeiro, o parque tem sido incansável em encontrar soluções que sejam úteis e necessárias à Cosmetek. A empresária sente-se "amparada” pelo parque e atesta a cooperação, uma vez que trabalha em parceria com outras empresas instaladas no Regia Douro.
Para Pedro Mendes, a localização geográfica do parque é muito importante. «O acesso das autoestradas é à entrada do parque, o que é muito importante para a Spawnfoam». Por outro lado, a proximidade aos centros de formação e a outras empresas potenciais parceiras de áreas muito diferentes são também mais-valias, uma vez que trocam serviços.
O projeto AEP Link pretende colocar os empresários a conversar para promover a competitividade do tecido empresarial português, e anda a percorrer o País com os Link Labs. O Link Lab Vila Real foi promovido pela AEP – Associação Empresarial de Portugal, Câmara de Comércio e Indústria, que contou com o envolvimento da Deloitte, com o apoio da Konica Minolta, Crédito y Caución e Iberinform, e com a colaboração do REGIA DOURO PARK. O projeto AEP Link é cofinanciado pelo Compete 2020, pelo Portugal 2020 e pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).