O empresário tem de olhar a inovação como necessária e estrutural
Os empresários de Évora destacam os fatores
decisivos que contribuem para PME mais sólidas e competitivas: o gestor deve
olhar para a inovação como parte do core da
empresa, como estrutural e "aplicá-la” a todas as áreas do negócio, todas as
empresas podem e devem inovar, mesmo as empresas com longos anos de atividade,
o empresário deve ter acesso a informação sobre o seu negócio, o seu mercado e
a concorrência para poder tomar decisões fundamentadas, e deve criar espaços de
reflexão dentro da empresa, para "re-agir” menos e agir mais proactivamente. A
discussão continua no LINK LAB ÉVORA, que juntou a 10 de outubro, no PACT –
Parque do Alentejo de Ciência e Tecnologia, meia centena de empresários para
debater os fatores críticos de competitividade das PME.
Paula Silvestre, diretora AEP Competitividade,
apresentou o projeto AEP LINK, que pretende estimular os fatores decisivos na
competitividade empresarial – inovação, investimento, economia digital e
cooperação -, e criar uma rede de cooperação para criar oportunidades, gerar
negócios, e induzir crescimento económico. «Nas PME a escala faz a diferença,
pelo que estas sinergias são essenciais para as empresas serem mais inovadoras,
competitivas e rentáveis».
«Este projeto, encabeçado pela AEP – Associação
Empresarial de Portugal, consiste numa rede nacional de players que querem resolver os desafios e problemas dos nossos
empresários – universidades, associações, empresas, investidores, etc.»,
completou Pedro Janeiro, strategy &
operations manager na Deloitte. Para que se possa efetivamente responder
aos desafios dos gestores e empreendedores, o consultor destacou a importância
dos empresários responderem ao questionário
nacional que pretende fazer o diagnóstico às PME portuguesas, para aferir as
suas necessidades e encontrar melhores respostas para cada um dos desafios que
as impedem de crescer.
Gonçalo Azevedo Silva, consultor da Deloitte,
apresentou outra ferramenta do AEP LINK, o dashboard
interativo da performance empresarial que
permite comparar as empresas com as restantes do mercado, e é uma ferramenta imprescindível
de análise da performance e de apoio
à decisão do gestor. Júlio Boga, senior account
manager na Deloitte, fez um tour
do portal aeplink.pt, «uma ferramenta ao serviço dos negócios», onde os
empresários têm acesso a todas estas ferramentas, e ainda à bolsa de oportunidades,
que pretende criar e promover oportunidades de negócio, e identifica o parceiro
certo para cada projeto.
Temos de olhar para a inovação como estrutural
O encontro de empresários prosseguiu com um
painel de discussão dedicado à inovação, moderado por Júlio Boga, e promovido
pela Crédito y Caución. Rui Barroso, diretor de transformação digital da DECSIS
deu o pontapé de saída à conversa, defendendo que a transformação digital já se
dá há muito tempo, e que obriga as empresas a transformar-se em todas as áreas
de forma transversal. «Temos de olhar para a inovação como estrutural: deve
estar em todas as áreas do negócio e em todos os processos. Deve servir para
planear o futuro do negócio, ser um driver.
As empresas têm de aprender a incorporar a inovação e transformação digital na
sua estratégia de negócio: não podemos reagir à necessidade de inovação pela
evolução do mercado, temos de a incorporar na estratégia, no plano de ação».

Rui Barroso, João Silva e Júlio Boga
Para Rui Barroso, a falta de capital, a aversão
ao risco, a iliteracia digital, e a falta de escala, são fatores impeditivos
para as PME incorporarem a inovação no seu ADN. «Daqui a algum tempo as
empresas só podem estar no espaço europeu se forem mais ágeis e inovadoras, e o
empresário não pode ter medo de partilhar ideias, por medo de serem roubadas.»
Se a ideia for boa e bem explorada, diz, não há quem possa prejudicar o projeto,
atesta. «É essencial ter uma visão, mas também um plano de inovação e transformação,
que derive em ações concretas que deem resposta aos desafios do mundo e também
do digital.»
João Barreiro da Silva, administrador da Bloco
B, acompanhou o colega de painel, e garantiu que «é preciso estar
constantemente a inovar. Não podemos deixar que os nossos anos de história nos
tirem o caráter inovador e moderno. Estamos sempre a aprender e a inovar.»
Temos de transformar a forma como vemos a nossa indústria, diz, e deu o exemplo
da sua empresa: mesmo no setor da pedra ornamental, a tecnologia é fundamental.
«Temos de olhar para todo o negócio de forma
mais vanguardista. Competimos muito dentro das fronteiras nacionais, entre nós,
e cria-se uma barreira com base no secretismo e falta de cooperação, e cada vez
mais temos de nos virar para fora. Nós não competitivos com o vizinho do lado,
competimos com o resto do mundo», garante. Quem não se adaptar e não inovar vai
sentir muitas dificuldades. «Devemos sim olhar para o lado, perceber a nossa
concorrência, e olhar para ela como possíveis parceiros. E se for preciso criar
parcerias com eles, para juntos sermos mais fortes e competitivos, é nossa
obrigação fazê-lo como empresários.»
Em relação à falta de investimento, João Silva
destaca os capitais de risco e outros mecanismos de financiamento além da
banca. «As empresas têm de ser cada vez mais autónomas da banca tradicional e
da sua própria estratégia. Rapidamente temos de olhar para outras formas de
financiamento mais dinâmicas para a economia portuguesa».
É impossível tomar decisões sem informação
A conversa prosseguiu, com um painel dedicado
ao investimento, promovido pela Iberinform, e moderado por Gonçalo Azevedo.
Para António Henriques, diretor executivo do Grupo CH Consulting, «há uma
alteração de paradigma no investimento: o novo grande desafio para a gestão é a
rapidez, a imprevisibilidade, a incerteza. O investimento hoje deve ser em
pessoas e em informação, e que é absolutamente central para o crescimento do
negócio», considera. E sobre a importância de ter acesso à informação do
negócio e do mercado, António Henriques é categórico, «É impossível tomar
decisões sem informação, sejam elas sobre o que forem». Paralelamente, destaca
que é muito importante ter espaços de reflexão, para pensar o negócio, decidir
bem.
O responsável destacou ainda algumas das prioridades
a considerar no investimento para gerir a mudança no negócio: ter uma equipa de
gestão, digitalizar os processos da empresa, e ter acesso a informação que
acrescente valor ao negócio.
António Henriques, Sérgio Antunes e Gonçalo Azevedo
Sérgio Antunes, diretor executivo da
Gestifatura, diz que a falta de solidez financeira das pequenas e médias
empresas e a aversão ao risco são travões ao crescimento das empresas e da sua
rentabilidade. «Um negócio tem de ter algum risco», considera.
Ainda sobre o acesso ao crédito, para poder
fazer investimento no negócio, é essencial tornar as empresas "interessantes”, mostrar
que são robustas, estáveis e de confiança. «Que riscos tem a minha carteira de
clientes? Eu sei? As ferramentas de gestão são essenciais hoje em dia. E é
muito fácil analisar a informação que está disponível hoje, para depois poder
redirecionar o meu negócio e torná-lo mais atraente».
No que toca à liquidez nas empresas mais
pequenas, há que definir procedimentos automáticos para garantir a fluidez, a
boa cobrança, porque esta é a componente que falha mais e que pode pôr em risco
o negócio. O empresário deve ter recursos suficientes, e quando não os há
internamente, pode recorrer ao outsourcing,
libertando os recursos humanos da empresa para outras tarefas. Nestas e noutras
questões centrais no negócio, Sérgio Antunes considera que a cooperação, mesmo
com a concorrência, é essencial: podemos aprender com os erros dos outros, não
só com os nossos – assegura. António Antunes concordou e acrescentou: além de
aprender é preciso aprender rápido!
O LINK LAB ÉVORA foi promovido pela AEP –
Associação Empresarial de Portugal, Câmara de Comércio e Indústria, que conta
com o envolvimento da Deloitte, com o apoio da Konica Minolta, da Crédito y
Caución e da Iberinform, e com a colaboração da ANJE. O projeto AEP LINK é cofinanciado
pelo Compete 2020, pelo Portugal 2020 e pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento
Regional (FEDER).