Entrevista: António Monteiro, Country Manager Iberinform Portugal
03-06-2020
O Projeto AEP Link quis conhecer a visão dos seus parceiros sobre as vantagens e potencialidades do desenvolvimento digital e tecnológico em Portugal para o aumento da competitividade das PME, e sobre o impacto do Portal AEP Link como ferramenta de apoio à cooperação e inovação das empresas.
Conheça a opinião de António Monteiro, Country Manager Iberinform Portugal:
1. Qual a importância que um aumento do investimento nas PME portuguesas, nomeadamente através do capital de risco, pode ter para a economia portuguesa?
1. Qual a importância que um aumento do investimento nas PME portuguesas, nomeadamente através do capital de risco, pode ter para a economia portuguesa?
A importância do investimento nas PME portuguesas não pode estar dissociada do facto de em Portugal as microempresas predominarem com uma capacidade financeira limitada. E este facto, por si só, gera alguma desconfiança e dificuldade no acesso ao financiamento tradicional, limitando assim o potencial de crescimento das empresas, quer do ponto de vista tecnológico, quer do ponto de vista de expansão da atividade. Neste cenário, os capitais de risco aparecem como uma alternativa natural, não só pela sua maior apetência por tudo o que esteja no chamado "leading edge of technology”, mas também pelo facto de se afastarem da simples análise financeira tradicional (com os seus rácios de retorno tradicionais), focando a sua atenção nos projetos com maior potencial numa perspetiva de médio/longo prazo, e como parte de uma cadeia de valor mais lata. Assim, o investimento efetuado desta forma nas empresas cria o necessário equilíbrio nas variáveis mais importantes – liquidez, segurança, risco acompanhado e a consequente rentabilidade.
2. A Iberinform foi distinguida como uma das 10 principais fornecedoras de soluções de gestão de risco da Europa pela CIO Applications Europe. A que atribui este sucesso?
O facto de ter alterado o seu ADN, migrando de uma empresa que fornece soluções tradicionais para um número limitado de clientes, para um provedor integrado de soluções de gestão de risco, com foco num mercado mais amplo, aproveitando mais de 70 anos de experiência nos mercados nacional e internacional. Efetivamente, a tendência foi a de alteração do foco de análise, abandonando o princípio da análise individual de uma única empresa para a análise combinada dos portefólios de clientes, fornecedores ou concorrentes, com foco nas ameaças e oportunidades imediatas, priorizando as ações imediatas e necessárias e, assim, aumentando a eficiência do trabalho nas empresas suas clientes. Tem sido o sentido para o qual a Iberinform tem os seus esforços, desenvolvendo ferramentas que podem parecer muito distantes do utilizador em geral, mas que, com o aumento das soluções direcionadas à tecnologia, estão já disponíveis. Penso que foi esta filosofia que valeu à Iberinform a distinção com que foi agraciada.
3. Enquanto Country Manager da Iberinform, como prevê que sejam os próximos anos da empresa em termos de crescimento (número de colaboradores, volume de negócios, …) em Portugal?
Este é um tema que é, simultaneamente, fácil e difícil de responder, considerando a conjuntura atual, muito influenciada pelo impacto global da pandemia na atividade empresarial, ao qual Portugal não é exceção.
Em termos de colaboradores, a atividade em si está cada vez menos dependente da intervenção humana interna, considerando os automatismos implementados associados à maior disponibilidade tecnológica e às alterações das redes de distribuição, cada vez mais suportadas em parceiros externos, mais conhecedores e próximos de realidade empresarial na sua área de influência. Assim, a expectativa, no que diz respeito ao número de colaboradores, tem como realidade mais próxima a manutenção.
A evolução perspetivada do volume de negócios é que torna a pergunta mais difícil de responder. Se por um lado a crise em si tem como consequência natural uma maior procura de soluções que facultem às empresas uma imagem mais factual da sua situação atual – o que nos leva a assumir um crescimento –, por outro a contração da economia em si, com uma estimativa, de acordo com as previsões do FMI na ordem dos 8% do PIB para Portugal, e que provocará o desaparecimento de muitas empresas, faz com que as necessidades médias de cada empresa diminuam significativamente. Simplificando, vamos ter empresas a procurar, mas com uma procura média significativamente inferior. Em termos previsionais, eu diria que o volume de negócios poderá observar uma manutenção ou alguma redução em 2020, com um crescimento significativo no ano seguinte, acompanhando novamente a estabilização da economia. Mas esta previsão é efetuada com os dados que conhecemos à data de hoje, que podem alterar em função da evolução da crise que estamos agora a viver.
4. No seu currículo apresenta vários cargos como diretor. Sente que a capacidade de liderança é algo que se desenvolve com a experiência?
No meu ponto de vista, a capacidade de liderança tem de ser uma caraterística inata das pessoas, não se cria. Pode, no entanto, desenvolver-se, e não tenho qualquer dúvida que a experiência faz com que as skills intrínsecas a esta capacidade sejam apuradas, nomeadamente na capacidade para utilizar os talentos que tem no seu grupo de maneira eficaz, através de um acompanhamento atento aos colaboradores e aos seus pontos fortes, na capacidade para ajudá-los a superar obstáculos e a aperfeiçoar as suas habilidades, e numa crescente troca de conhecimentos que faz com que as interações sejam um fator de crescimento para os trabalhadores e para a empresa.
Como alguém dizia, um chefe não pode ser considerado um líder, mas um líder pode ser considerado um chefe. E penso que todos os líderes, apesar de terem essa característica em si, em algum ponto do seu percurso começara, por ser vistos como chefes, e que a experiência os fez, progressivamente, ser vistos de uma forma diferente.
5. Uma das instituições de ensino que frequentou foi o Instituto Superior Técnico. Que recomendações daria aos alunos portugueses que irão entrar no mercado de trabalho em 2020?
Os desafios que os jovens de hoje têm para entrar no mercado de trabalho são bem diferentes dos que eu tive. A primeira grande diferença está relacionada com o timing: antes contratavam-se pessoas com o curso concluído, hoje procuram-se pessoas ainda como estudantes e que já demonstrem potencial; a segunda grande diferença está relacionada com a economia em geral, as condições proporcionadas aos novos recrutados são comparativamente mais frugais face ao passado. Existe, no entanto, um denominador comum entre ambos os períodos: quem entra no mercado de trabalho tem obrigatoriamente de passar por um ciclo de aprendizagem.
Como principais recomendações, e se eles tiverem a sua formação efetuada numa universidade técnica, o que por si só é uma vantagem, pela procura incremental de profissões relacionadas com estas áreas, eu diria que:
- O fator financeiro, se bem que importante, não deve estar no topo das preocupações; a principal preocupação será a de entrarem num projeto que vos permita conhecer a realidade empresarial e que em que possam desenvolver as vossas suas aptidões e que estas sejam valorizadas;
- Igualmente importante é a contínua demonstração de empenho e vontade de aprender; como empregador, valorizo as pessoas que querem saber mais e se esforçam por fazê-lo, em comparação a pessoas que se acomodam; e a procura de ofertas que permitam melhorar a formação são sempre bem-vindas e valorizadas;
- Demonstrem proatividade e dinamismo, não hesitando em tomar iniciativas e em colaborar na procura de soluções; não esquecer que o futuro que terão é aquele que vocês mesmos constroem.
6. Portugal tem dos valores mais baixos da UE28 no que concerne aos fluxos de investimento de capital de risco com origem nacional (valor do investimento em % do PIB, nas fases de crescimento, considerando os fluxos com origem em Portugal). De que forma as PME podem atrair mais investidores estrangeiros?
Por experiência própria, eu diria que o problema não está propriamente na capacidade das PME e dos empresários portugueses, mas em fatores externos que limitam de alguma forma a apetência de investidores estrangeiros em projetos que não sejam, digamos, de primeira grandeza e com muita visibilidade. E aqui o Estado desempenha um fator fundamental, não só na promoção de Portugal como destino de investimento (e tem-se observado uma evolução bastante positiva nos últimos anos), mas especialmente na criação de condições que facilitem este investimento, eliminando os obstáculos e as barreiras existentes. Neste aspeto saliento os obstáculos derivados de uma máquina fiscal muito pesada e um Estado não reformado muito pesado, que em vez de estar verdadeiramente vocacionado para uma Política de desenvolvimento, está num chamado círculo vicioso de excessivo endividamento e de obtenção de receita cega (que são atenuados graças a um nível de taxas de juros muito baixo e das melhorias que referi na modernização e no apoio estratégico às empresas); numa máquina judicial morosa e pouco eficiente, nas questões relacionadas com regulação e regulamentação, que continuam desfavoráveis ao investimento em alguns setores, e também na regulação dos chamados serviços de utilidade pública ("utilities”), especialmente importantes para investimentos em projetos industriais, com preços de energia que deveriam estar mais próximos das referências europeias.
7. Quais são os maiores desafios para as PME portuguesas na internacionalização dos seus negócios?
Para além das variáveis tradicionais, como a avaliação dos mercados que queremos abordar (recorrendo a informação proveniente de diretórios, câmaras de comércio, associações e eventuais agentes locais), a definição dos segmentos para os quais queremos direcionar a nossa estratégia (clientes e parceiros, recorrendo a enquadramentos jurídicos dos mercados de destino, risco de setor e eventual avaliação financeira dos visados), e ter efetuado as necessárias análises financeiras associadas a esta evolução (financiamento, margens comerciais, fluxos de caixa, etc.), eu diria que o maior desafio das empresas prende-se com a correta definição da sua política de pagamentos, ao nível de eventuais créditos a conceder, e a definição de workflows que permitam lidar com incumprimentos, de forma a mitigar a maior preocupação dos empresários, o risco de crédito e as correspondentes consequências associadas ao incumprimento.
8. De que forma as atividades desenvolvidas durante o Projeto AEP Link podem levar a um aumento do investimento nas PME portuguesas?
O projeto AEP Link, para além da vantagem inerente de ser uma das poucas iniciativas especificamente endereçadas às PME portuguesas, teve a vantagem adicional de contribuir para a descentralização, num contexto em que a maior parte de iniciativas deste teor ocorrem quase exclusivamente nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Assim, pelo seu carácter quase de exclusividade em muitas regiões, conseguiu captar a atenção de muitos empresários, enquanto fornecedores, clientes ou parceiros, promovendo a captação de investidores em projetos novos ou que possam ser interessantes, e para os quais eles possam trazer valor, ou outros desafios em regiões em que tipicamente não existe muito foco. Foi assim, sem qualquer dúvida, um projeto útil e importante, e que deverá ser replicado/perpetuado com iniciativas similares.
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