Link Talk Day Norte | Ana Abrunhosa: «Se no último Innovation Scoreboard fomos considerados um país inovador foi graças às empresas»
21-07-2020
Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial, no Link Talk Day dinamizado pela AEP
«Se no último Innovation Scoreboard fomos considerados um país inovador foi graças às empresas, à academia e às associações empresariais», afirmou Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial, na sua intervenção no Link Talk Day, dinamizado pela AEP – Associação Empresarial de Portugal, no âmbito do projeto AEP Link. No evento onde foi divulgado o relatório "O Futuro da Economia Portuguesa – Preparar a retoma pós COVID-19”, que define a economia digital, a inovação e o investimento como os fatores críticos de competitividade para alavancar e acelerar a fase de recuperação económica de Portugal, a ministra destacou ainda que, «se este estudo era pertinente antes da pandemia, ainda é mais pertinente hoje», e felicitou a AEP pelo trabalho de «auscultar e de envolver (as empresas), para perceber o que se passa e em áreas que são absolutamente vitais».
«Somos um país com poucas patentes quando comparados a nível internacional, mas isso terá a ver com a cultura que temos de partilhar pouco e cooperar pouco, porque um pedido de patente exige que divulguemos os resultados da nossa investigação e da nossa inovação, e, muitas vezes, faz parte do segredo industrial não divulgar», explica Ana Abrunhosa. «Nem sempre as patentes são o melhor indicador da capacidade inovadora das empresas e, no caso português, claramente que não são», considera, referindo que ainda que «continua a ser uma prioridade do Portugal 2020, e será uma prioridade do fundo de recuperação e do Portugal 2030, apoiar as empresas nos seus projetos inovadores».
A ministra da Coesão Territorial considera que «as práticas de cooperação do tecido empresarial em torno destes fatores críticos de competitividade (economia digital, inovação e investimento) são muito importantes», e realçou o papel das associações empresariais que, «pela missão que têm de defesa do tecido empresarial e de dar voz ao empresários, são um meio para as empresas se internacionalizarem, para se capacitarem, para se qualificarem e formarem os seus recursos humanos», além de fazerem muitas vezes «de mediadores e promoverem redes de contactos entre empresas». Ana Abrunhosa reforçou a importância da cooperação, salientando que «a inovação e o I&D também se faz entre empresas, entre centros tecnológicos e entre a academia e as empresas».
Na sua intervenção, a ministra reconheceu que que «muito temos a fazer, mas que na pandemia muitos já fizeram, nomeadamente na área da digitalização. Fizemos em meses aquilo que, em tempos normais, demoraria anos». Perante as exigências da pandemia da COVID-19, a governante destacou que, «de uma semana para a outra, as empresas descobriram que conseguiam trabalhar em regime de teletrabalho e perceberam que tinham de entrar no mundo digital, de contratar pessoas e serviços de outras empresas que não imaginavam ter de contratar». Ana Abrunhosa revelou que «faz parte do plano de estabilização económica do Governo, e deste Ministério da Coesão Territorial, continuar a apoiar as empresas neste esforço. Teremos instrumentos para as apoiarmos nesta transição digital, em contexto de micro empresas e de sistema de incentivos para projetos de I&D em coprodução».
«Para estimular a inovação das empresas que comportem elevado risco, o Estado tem de ser parceiro e tem de partilhar esse risco, e é precisamente por isso que grande parte dos projetos de ID são a fundo perdido e têm que continuar a ser», considera a ministra. Da mesma forma, e respondendo a um repto da AEP, Ana Abrunhosa revelou que «o Ministério da Coesão Territorial tem previsto apoiar as micro e pequenas empresas até 150 mil euros a uma taxa de 50 ou 60%, a fundo perdido, na compra ou substituição de equipamentos para estimular a produção nacional».
Quanto a apoios na contratação de recursos humanos, a ministra revelou a criação de um novo programa para apoio à contratação de doutorados, pós-doutorados e licenciados com grande experiência, além do programa "Mais Coeso Emprego”, com um total de 90 milhões disponíveis para as micro e pequenas e médias empresas. Os apoios para contratação de trabalhadores qualificados nos territórios no interior, considerando a contratação de até três trabalhadores, podem atingir os 1.500 euros por mês, durante três anos, por trabalhador, sendo que o subsídio é não reembolsável. Para empresas no litoral, com menos de cinco anos, que contratem trabalhadores em situação especial, como por exemplo vítimas de violência doméstica ou refugiados, o valor passa a 1.900 euros por mês; para empresas do interior esse valor é de 2.200 euros. Uma empresa que coloque o trabalhador em teletrabalho recebe o incentivo como se fosse uma empresa instalada no interior.
O Link Talk Day, dinamizado pela AEP, contou ainda com a apresentação de um diagnóstico do perfil dos investidores e das necessidades das empresas, por Margarida Ramos Pereira e Rui Gidro, da Deloitte, e após Paula Silvestre, Diretora da AEP Competitividade, apresentar o estudo "O Futuro da Economia Portuguesa – Preparar a Retoma Pós-COVID19”, seguiu-se o painel "Investimento, inovação e digitalização”, moderado por Pedro janeiro, da Deloitte, com a participação de Paulo Vaz, da AEP, Bernardo Maciel, da Yunit Consulting, e Paulo Morais, da Crédito y Caución. No debate, a propósito da crise económica que se anuncia, Paulo Morais defendeu que «as empresas terão de se preparar para o pior», considerando que «não há nenhum indicador positivo que nos faça pensar o contrário». Já Bernardo Maciel alertou para o cenário de "esquizofrenia” em que vivem as empresas que, «por um lado têm de resolver as suas obrigações de curto prazo» e, por outro, «no meio de toda a incerteza, estão a planear novos modelos de negócio». Por sua vez, Paulo Vaz considera que «ninguém está preparado para dar uma resposta a esta situação», e que «as nossas empresas não darão a resposta conveniente, mas darão a respostas possível, vamos encontrar certamente exemplos de reinvenção».
Em jeito de balanço da sessão, Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP, declarou que «temos de fazer um trabalho de reflexão sobre as prioridades de longo prazo e médio prazo, mas, de forma pragmática, devemos pensar sobretudo no curto e no médio prazo. Temos de continuar a apostar na qualificação e requalificação das pessoas, e depois temos que ter instrumentos de apoio ao investimento para a aquisição de equipamentos. Com esta conjugação podemos melhorar uma situação crítica que é o problema da produtividade». O presidente da AEP considera também que «precisamos valorizar cada vez mais as pessoas, não só no que respeita às competências técnicas, mas sobretudo nas soft skills, que são essenciais em situações em que é necessária adaptação e resposta a desafios, como estes que enfrentamos neste período, que está a exigir tanto de nós». Luís Miguel Ribeiro rematou afirmando que «a cooperação é, neste momento, o fator mais importante para ultrapassar esta crise. Temos de ser capazes de cooperar porque a dimensão dos desafios exige isso mesmo».